Marco legal do hidrogênio no Brasil traz mais segurança às futuras exportações, avalia Câmara Alemã de Comércio
Sebastian Bolay conta que demanda por hidrogênio na Alemanha pode chegar a 1000 terawatts-hora e país precisará buscar o energético fora da Europa.
BRERLIM – A recente aprovação do marco regulatório para o hidrogênio de baixo carbono no Brasil sinaliza um passo crucial para fortalecer as relações comerciais entre Brasil e Alemanha, especialmente no setor energético, avalia Sebastian Bolay, diretor de Energia, Meio Ambiente e Indústria da Câmara Alemã de Comércio e Indústria (DIHK, na sigla em alemão).
Bolay, que recentemente esteve no Brasil, expressou entusiasmo com o avanço do país na regulação e certificação do hidrogênio e destacou as oportunidades e os desafios dessa parceria.
“Estamos muito felizes que o Brasil esteja avançando no hidrogênio e estabelecendo um marco regulatório claro. As empresas só vão investir se houver um ambiente estável para os negócios”, afirmou em entrevista à agência epbr.
Ele conta que a demanda por hidrogênio na Alemanha será extremamente alta, com estimativas variando entre 500 e 1000 terawatts-hora, devido à necessidade de descarbonizar setores industriais, que atualmente dependem de fontes fósseis.
“A economia e as empresas alemãs estão olhando para nossos vizinhos europeus. Mas se olharmos para a neutralidade climática em 2045 da Alemanha, ou 2050 no nível europeu, não seremos capazes dentro da União Europeia de produzir todo o hidrogênio necessário”.
Parceria estratégica
Para a Alemanha, o Brasil se destaca como um parceiro estratégico no fornecimento de hidrogênio, especialmente devido à sua estabilidade política e condições naturais favoráveis, pontua Bolay.
“O Brasil é o país mais próximo da Europa com o maior potencial para produzir hidrogênio, com abundância de água, terra, vento, sol e resíduos agrícolas. Além disso, a infraestrutura portuária existente facilita o desenvolvimento de uma infraestrutura de exportação”.
E mesmo em uma possível concorrência com países do Norte da África que também devem se destacar na produção e exportação de hidrogênio verde para a Europa, o diretor acredita que o Brasil leva vantagem.
“Tenho quase certeza de que obteremos algum hidrogênio ou derivados também do Norte da África, mas não acho que isso virá em grandes quantidades e, portanto, o Brasil é o é país a se olhar”.
Para ser viável, no entanto, o transporte de hidrogênio em grandes quantidades deverá ocorrer na forma de derivados como amônia e combustíveis sintéticos (e-fuels).
“A aviação europeia terá que ser neutra em carbono até 2039, e é provável que a produção de e-fuels dentro da União Europeia seja limitada, o que abre oportunidades para o Brasil”.
Mercado para hidrogênio azul
A Alemanha, que anteriormente focava exclusivamente no hidrogênio verde (eletrólise com renováveis), expandiu sua estratégia de importação para incluir o hidrogênio azul, rota que utiliza gás natural (fóssil) com captura de carbono. Bolay considera essa mudança positiva.
“É uma boa decisão do governo alemão incluir o hidrogênio azul na estratégia. Embora o hidrogênio verde seja o objetivo final, precisamos de algo para alimentar a infraestrutura enquanto ela é construída (…) Mesmo o hidrogênio verde não fica sem uma pegada de CO2 no final. Então é melhor ter um hidrogênio de baixa emissão do que não ter hidrogênio algum”.
Sobre o impacto da transição energética na economia alemã, o diretor é cauteloso.
“A transição energética é mais um fardo do que um motor de crescimento no momento. A Alemanha precisa investir pesadamente em infraestrutura, o que inclui redes elétricas, infraestrutura de hidrogênio e CO2, além de adaptar a infraestrutura existente. Isso representa um desafio econômico significativo.”
Ele cita que somente para a expansão de linhas de transmissão e distribuição na Alemanha, serão necessários 600 bilhões de euros até 2045.
Atualmente, o país vem sofrendo com os altos custos de energia, o que se reflete na redução da atividade industrial. Junto a isso, cresce o debate sobre a possível realocação de indústrias intensivas em energia, como a siderurgia, para países como o Brasil. Bolay reconhece a possibilidade, mas aponta desafios.
“Embora o Brasil seja uma boa opção para a relocalização de indústrias, a necessidade de mão de obra qualificada é um grande desafio. A transferência de plantas industriais não é simples, especialmente em setores que requerem alta especialização.”
Além do hidrogênio, Brasil e Alemanha também estão colaborando no setor de matérias-primas para veículos elétricos, visando reduzir a dependência da China. Bolay vê essa parceria de forma positiva, mas acredita que as empresas alemãs dificilmente irão investir diretamente em minas no Brasil.
“Embora o governo alemão busque expandir as possibilidades comerciais com o Brasil, duvido que muitas empresas alemãs invistam diretamente em matérias-primas no Brasil, pois isso não faz parte do core business dessas empresas”.
Fonte: epbr.com.br