Pela primeira vez, um grupo de variantes do vírus da raiva humana, bastante semelhante às encontradas em saguis do Nordeste brasileiro, foi identificado em morcegos do Ceará. O estudo, conduzido com diversas espécies de morcegos, analisou 144 amostras de tecidos cerebrais no Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (Lacen). Essa descoberta levanta preocupações sobre a complexa dinâmica de transmissão do vírus entre diferentes hospedeiros.

Surpreendentemente, o vírus da raiva foi encontrado em morcegos frugívoros e insetívoros, não apenas nos hematófagos, que são mais conhecidos como transmissores da doença. O estudo, liderado pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp) e publicado no Journal of Medical Virology, destaca a importância de considerar essa fonte negligenciada de infecção pela raiva humana, que já causou 15 mortes no Ceará nos últimos 30 anos.

O estudo envolveu a análise de amostras de tecidos cerebrais de morcegos que chegaram ao Lacen do Ceará entre janeiro e julho de 2022, como parte do programa de vigilância epidemiológica nacional. Os pesquisadores extrairam o RNA dos vírus e realizaram o sequenciamento genético, comparando as sequências com outras depositadas em bancos de dados públicos.

Os resultados mostraram a semelhança entre as variantes encontradas em morcegos e as que afetam saguis, que são animais comuns nas áreas urbanas e selvagens do Nordeste, às vezes mantidos como animais de estimação. Essa proximidade com os saguis pode representar um risco para os humanos, pois esses animais também podem transmitir o vírus, levando a casos fatais de raiva humana.

Até agosto deste ano, sete saguis no Ceará foram encontrados com o vírus da raiva humana, ressaltando a relevância dessa descoberta e a necessidade de maior atenção à transmissão do vírus entre diferentes espécies.