Após chuva, Guaíba volta a superar 4 metros; prefeitura tenta conter repique com sacos de areia e população vive dia de incerteza
Capital e Vale do Taquari estão em alerta por risco de deslizamentos; em Cruzeiro do Sul, 300 moradores saíram de suas casas. Estado registra 163 mortes em razão dos temporais e cheias.
O Guaíba alcançou 4,27 metros em Porto Alegre nesta sexta-feira (24), conforme a medição feita pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema). O repique, resultado da chuva que atinge a capital e boa parte do estado desde quinta (23), causa insegurança na população.
Na capital, a prefeitura chegou a colocar sacos de areia para conter o avanço do lagono mesmo local onde, uma semana antes, foi derrubada de uma comporta para escoar a água acumulada na rua.
A instabilidade superou os 100 milímetros em 24 horas em Porto Alegre. O mês de maio foi o mais chuvoso na cidade em mais de um século, aponta um levantamento da Climatempo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) obtidos desde 1916.
A água, que subiu pelos bueiros, alagou locais que não tinham sido atingidos anteriormente. A situação é explicada por um conjunto de problemas: volume de chuva, obstrução de galerias de escoamento e limitações nas casas de bombas.
A situação deixa a população sem saber o que fazer, diante do risco de alagamentos. Na quinta, estudantes de uma escola precisaram ser resgatados após a inundação na Zona Sul, por exemplo.
"Não tem como permanecer, gera uma insegurança muito grande", diz Laura Bock Garcia, diretora da escola.
No Centro Histórico, pessoas estavam vasculhando o lixo deixado na rua. Nesta sexta, moradores ainda lidavam com a inundação e com a limpeza dos locais afetados na Zona Sul.
"Quem dorme? Se o senhor olhar pra minha cara, eu tô com a cara do espanto, eu tô com a cara do horror", desabafou a dona de casa Roberta Pacheco.
Morador limpa rua suja de lama em Porto Alegre — Foto: Reprodução/RBS TV
A Defesa Civil de Porto Alegre emitiu nesta sexta-feira alerta para 26 pontos com alto risco de deslizamentos, processos erosivos e rolamento de blocos em áreas suscetíveis. O alerta é válido até a segunda (27). No Vale do Taquari, o risco de deslizamento de terra forçou a retirada de 300 moradores de suas casas em Cruzeiro do Sul, uma das cidades afetadas pelos temporais no final de abril.
O governador Eduardo Leite (PSDB) sancionou a lei que institui o Plano Rio Grande e o Fundo do Plano Rio Grande. O ato contou com a presença de Paulo Pimenta (PT), ministro-chefe da Secretaria Extraordinária de Apoio à Reconstrução do RS.
O estado registra 163 vítimas em razão do desastre. Há 65 pessoas desaparecidas. As chuvas e enchentes também deixaram 806 feridos e 645 mil pessoas fora de casa. Além disso, quatro pessoas morreram por leptospirose após contato com a água suja e contaminada das enchentes.
Guaíba volta a subir
Durante a tarde, o nível do Guaíba chegou aos 4,27 metros no Cais Mauá, em Porto Alegre. É a primeira vez que a água fica acima da marca dos 4 metros desde terça-feira (21) – a cota de inundação é de 3 metros.
Cientistas do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS afirmam que "os cenários de previsão indicam cheia duradoura, com manutenção dos níveis elevados nos próximos dias".
"Os níveis do Guaíba devem oscilar em torno da marca dos 4 metros. Devem ocorrer elevações dos níveis do Guaíba pelos ventos previstos e manutenção dos patamares dos níveis em função das chuvas que já aconteceram nesta semana e chuvas previstas na próxima semana, prolongando a cheia", destaca o IPH.
Fonte: G1