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Filha reencontra mãe em São Gonçalo do Amarante, 38 anos após ter sido sequestrada

Filha reencontra mãe em São Gonçalo do Amarante, 38 anos após ter sido sequestrada

Jucileide foi separada da mãe aos dois anos de idade e reencontrou no domingo em São Gonçalo do Amarante.

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Após 38 anos de uma separação prematura, a autônoma Jucilene Vieira, de 40 anos, reencontrou a mãe, Francisca Pereira, 75, no município de São Gonçalo do Amarante, na Região Metropolitana de Fortaleza. Com dois anos de idade, Jucilene foi retirada pelo pai da casa onde residia com Francisca, no município de General Sampaio, a cerca de 120 Km da capital cearense.

A procura pela mãe começou neste ano e contou com a ajuda de dois amigos e do filho, Yulli, de 18 anos. “Foi uma alegria tão grande que até agora não caiu a ficha. Parecia que a gente já se conhecia faz tempo. Ver meus sobrinhos, reconhecer os meus traços neles foi muito forte. Me senti muito acolhida”, conta Jucilene. “A minha vida toda contaram que minha mãe tinha me abandonado, que eu passava necessidade mas eu sentia que não era verdade”, afirma, emocionada.

Para chegar até Francisca, a autônoma precisou romper com um passado até então escondido. “As histórias que eu sabia era que meu pai me tirou dela porque eu passava fome, que ela tinha me abandonado. Quem me criou foi minha tia, irmã do meu pai. Reuni toda a minha coragem e decidi perguntar para ela a verdadeira história”, explica.

A única informação que tinha sobre a matriarca era a certidão de nascimento. Com isso, a autônoma recorreu à Internet para achar a mãe. “Todos participaram da busca. Nunca quis que fosse segredo essa procura porque não era só sobre mim, envolvia muita gente”, aponta.

A busca virtual retornou um endereço de Fortaleza mas, ao chegar ao local, ela e os colegas descobriram que a moradora tinha falecido. “Era o mesmo nome da minha mãe e do meu avô que eu tinha, mas eu senti que ainda não era ali. Eu nem desci do carro. Disseram que a mulher que eu achei tinha falecido. Eu sentia minha mãe viva em mim”, conta Jucilene.

Após a tentativa frustrada, um dos amigos de Jucilene buscou a ajuda de Marcos Aurélio, capitão da Polícia Militar. Com acesso à base de dados da polícia, o militar investigou mais profundamente o paradeiro de Francisca. “A pessoa que tinha morrido tinha o mesmo nome da dona Francisca, era homônima”, explica o capitão. “Então eu fui enviando as informações que tinha no sistema sobre outras mulheres com nome similar para o nosso amigo em comum.”

Jucilene reconheceu imediatamente o rosto da mãe entre as opções selecionadas pelo policial. “Eu disse que poderia mandar as fotos que eu ia reconhecer com coração. Assim que eu vi o rostinho dela, com meus traços, veio um filme. Aí, eu disse ‘Capitão, pode esquecer as outras três. É essa, mesmo”, recorda a autônoma.

E, de fato, era Francisca. Para evitar algum desconforto, temendo uma reação da outra parte da família, Aurélio buscou antes de uma aproximação física, entender a situação. “Meu receio era que houvesse algum ressentimento. Ela, Jucilene, estava com muita expectativa e eu queria poupar ela de uma frustração. Mas assim que eu liguei para a pessoa que eu consegui, que era a irmã mais velha dela, a Maria, a primeira coisa que ela me falou foi que estava procurando pela Jucilene fazia 30 anos”, recorda o policial.

Acolhimento

 

A ligação confirmou a necessidade do reencontro. Marcos, Jucilene e Yulli partiram para São Gonçalo do Amarante em busca da outra parte da família. O estranhamento do primeiro contato foi substituído por uma grande emoção “Lá vende almoço. A gente chegou como se fosse cliente. Cheios dos ‘bom dia, tudo bem?’”, brinca Jucilene. “Depois, quando caiu a ficha, nos abraçamos, nos reencontramos. Parecia que eu conhecia o pessoal faz muitos anos”, sente a autônoma.

Abraçar a mãe depois do período separadas foi uma experiência à parte. “Ela ficou muito emocionada, chegou até a passar mal. Foi um choque”, recorda a autônoma. Foi nas conversas com Dona Francisca que Jucilene descobriu o outro lado da história, escondido durante a infância. “Minha mãe nunca deixou de ir atrás de mim. Botava os anúncios de desaparecida. Elas nunca desistiu. Disse que sabia que eu tava viva e que iria me encontrar antes de morrer”, conta Jucilene.

O abraço materno, que estava entalado por tanto tempo, emocionou também Aurélio, que considera o momento o mais delicado dos seus quase 20 anos de carreira. “Fui treinado para muitas coisas, passei por muitas coisas, mas não consegui não chorar. Para mim, ou a quebra de um ciclo de 38 anos de sofrimento dessa família. Já pensou você passar 38 anos sem mãe, sem motivo nenhum?”.

Apesar das circunstâncias, Jucilene confessa estar em paz com o passado. “Meu pai morreu quando eu tinha 14 anos. Foi tudo muito duro. Eu não quero encontrar culpados, eu sinto que Deus me honrou, agora tenho duas famílias. Sinto que a jornada fez parte porque se eu não tivesse um passado de escuridão, não conseguiria ver a luz Deus colocou nesses momentos”, avalia.

Fonte: G1 Ceará. 

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